Aposto que você viu algum cantor sertanejo ou dupla anunciando pausa na carreira ou diminuição dos shows em 2023. Mas por que isso está acontecendo?
Por: Hernane Freitas
O ano de 2023 começou com grandes transformações na música sertaneja. Com a ascensão do chamado ‘agronejo‘, que eu já me referi aqui na coluna, vários cantores e duplas sertanejas chegaram ao grande público, fazendo sucesso e lotando apresentações por onde passam.
Com a onda de desvalorização dos cachês dos veteranos, que vem amargando com algumas baixas em seus valores de shows, duas atitudes interessantes tem me chamado a atenção nestes dois primeiros meses do ano: a paralisação de carreiras e diminuição do número dos shows.
Antes de escrever essa coluna, refleti bastante sobre o que escreveria aqui. No Movimento Country já foram abordados vários aspectos técnicos e de mercado que contribuem para essas atitudes, como possivelmente o desinteresse dos contratantes ou o alto valor dos cachês e custos para o público. Mas e se hoje pensarmos no que pode mover os sentimentos destes cantores sertanejos?
Uma coisa ficou muito evidente para este colunista desde o dia 5 de novembro de 2021. Lembra que data é essa? Sim, o dia em que Marília Mendonça nos deixou precocemente aos 26 anos. De lá pra cá, a música sertaneja – e brasileira em geral – vem refletindo sobre o quanto a vida pode ser curta e passageira.
Não só Marília Mendonça como Gabriel Diniz, Cristiano Araújo, os cantores Maurílio e Aleksandro, que deixaram suas duplas… todos morreram de forma trágica e precoce nos últimos anos, deixando em sua maioria filhos, família, amigos e pessoas que os amam.
E essas mortes refletiram diretamente na forma com que as agendas de shows estão sendo preenchidas este ano. Muitos cantores sertanejos não querem mais fazer 25, 30 apresentações por mês para, assim, ficar mais próximo de sua família, especialmente os veteranos, que já encheram seus bolsos com essa rotina louca de apresentações e tiram seu sustento de outros negócios.
O primeiro a anunciar uma diminuição drástica em sua agenda de shows foi Zé Felipe, que está desde outubro com pouquíssimos espaços ocupados em sua agenda em decorrência do nascimento da segunda filha. O jovem filho de Leonardo abdicou meses valiosos – e lucrativos – para acompanhar de perto os primeiros meses da sua herdeira, enquanto constrói uma mansão gigantesca para morar ao lado da sua família.
Em uma determinada entrevista, o marido de Virgínia Fonseca chegou a revelar que ele sentiu falta disso em seu pai, que começou carreira solo após a morte de Leandro – no mesmo ano de nascimento de Zé Felipe. Leonardo, de fato, mal viu o crescimento dos seus filhos, já que batalhava duramente fazendo shows quase todos os dias.
Outra pessoa que pegou todo mundo de surpresa foi Gusttavo Lima, que revelou recentemente uma diminuição em sua agenda de shows de 2023. O motivo, para ele, é o mesmo: curtir mais a esposa e os filhos. E isso ele tem feito, já que está há um bom tempo de férias e curtindo um de seus apartamentos luxuosos nos Estados Unidos.
É interessante pensarmos que o homem mais rentável da atualidade já não precisa mais da loucura de turnês lotadas e pode, enfim, tirar um tempo de glória junto das pessoas que ama. Afinal de contas, dinheiro nenhum supera a vida e os familiares do seu lado.
Não poderia deixar de citar Eduardo Costa nesta reflexão. Seu caso é mais específico e envolve um certo desapontamento com as “músicas comerciais e repetitivas” da atualidade, conforme ele disse em certa entrevista. O cantor sertanejo anunciou uma pausa em sua carreira após a agenda de 2023 e nem sabe quando voltará as palcos.
Ainda, assim, ele revelou também querer ficar perto de sua família e dos filhos de sua noiva Mariana Polastreli, que ele já considera seus. Costa quer ver o “seu” caçula crescer, e para isso resolveu parar com sua agenda de shows por tempo indeterminado.
Quanto tempo essas determinadas pausas vão durar eu já não sei dizer, mas fato é que, aparentemente, todas tem um fator comum: a vontade de estar mais próximo de suas famílias e das pessoas que amam.
É inegável que a morte de Marília Mendonça deu um choque de realidade nestes cantores sertanejos, afinal de contas a vida é um sopro e devemos aproveitá-la ao lado das pessoas que amamos o quanto pudermos. A morte da cantora mais querida dos últimos anos mostrou que, de fato, não se pode prever o amanhã. Então, o jeito é aproveitar o hoje.
Mesmo que isso custe alguns milhões de reais a menos.