Sertanejo é preso por coordenar esquema de músicas falsas com bots e roubo de direitos autorais; prejuízo milionário choca a indústria musical.
O cantor sertanejo Ronaldo Torres de Souza foi preso em uma operação que revelou o esquema chocante de sucessos falsos no streaming. Acusado pelo Ministério Público (MP) de usar bots para inflar plays de músicas roubadas, o sertanejo teria causado prejuízos milionários e marcado o primeiro registro no Brasil de uma “fazenda de streams”.
Segundo a denúncia, Ronaldo criava perfis falsos para publicar músicas de terceiros sem autorização, desviando a renda gerada por meio de seu Pix. Estima-se que o golpe tenha movimentado R$ 6,6 milhões, sendo parte dessa quantia investida em bens como carros de luxo e criptomoedas.
O Submundo do Sucesso Falso
A operação descobriu que Ronaldo mantinha 21 laptops rodando robôs para simular acessos simultâneos a suas músicas. Essa tecnologia permitia que até 2.500 “ouvintes” falsos estivessem ativos 24 horas por dia.
O golpe ganhou proporções ainda maiores com a inclusão de faixas criadas por inteligência artificial. Nesse esquema, Ronaldo nem sequer precisava compor ou adquirir músicas, evidenciando a fragilidade do sistema de direitos autorais no Brasil.
Impacto Milionário e Indústria Prejudicada
A prática de inflar números com bots afeta diretamente a indústria musical, que movimentou R$ 2,8 bilhões em 2023. Segundo a União Brasileira de Compositores (UBC), fraudes como essa distorcem métricas e reduzem a renda dos artistas legítimos.
Marcelo Castello Branco, presidente da UBC, defende a criminalização da prática: “Essa execução falsa distorce remunerações e cria um parâmetro irreal que prejudica toda a cadeia produtiva.”
Como o Golpe Operava no Mercado Sertanejo
No meio sertanejo, os compositores frequentemente compartilham “guias” — versões preliminares das músicas — para avaliação de cantores. Ronaldo interceptava essas faixas, alterava os dados e as lançava como suas em 209 perfis falsos.
Uma das vítimas mais conhecidas foi Murilo Huff, viúvo de Marília Mendonça, que teve músicas publicadas sem autorização. O MP encontrou 3.900 guias armazenadas nos computadores de Ronaldo, indicando que o golpe pode ser ainda maior do que se imaginava.
A Conexão com Empresas e Plataformas
Ronaldo usava agregadoras estrangeiras para publicar suas músicas, dificultando o rastreamento. Contudo, a empresa brasileira WMD, que também hospedou perfis falsos, colaborou com a investigação, identificando mais 32 contasassociadas ao Pix do sertanejo.
O Spotify, líder no mercado de streaming, se posicionou de forma limitada: “Dependemos de nossos provedores de conteúdo para verificar direitos autorais.” Essa postura expõe as falhas no controle de conteúdo infrator nas plataformas.
A Trajetória do Sertanejo até o Submundo
Ronaldo, conhecido pelo nome artístico Alex Ronaldo, tentou por anos alcançar o sucesso legítimo. Após se destacar em programas como Faustão e Encontro com Fátima Bernardes, ele nunca conseguiu consolidar sua carreira. As tentativas frustradas levaram à criação do esquema de sucessos artificiais, que agora o coloca no centro de um escândalo nacional.
Robôs: Um Problema Global
O caso de Ronaldo é apenas a ponta do iceberg. Estudos indicam que 10% dos plays em plataformas de streaming são manipulados por robôs, desviando anualmente cerca de US$ 2 bilhões.
No Brasil, artistas como Gustavo Moura e Jefferson Moraes também tiveram músicas retiradas do ar pelo Spotify após suspeitas de uso de “fazendas de plays”. Esse cenário reforça a necessidade de maior fiscalização e transparência no mercado.